terça-feira, 25 de agosto de 2015
Cansaço
" O que há
O que há é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo
Nem sequer de tudo ou nada
Cansaço assim mesmo, ele mesmo
Cansaço
A subtileza das sensações inúteis
As paixões violentas por coisa nenhuma
Os amores intensos por o suposto em alguém
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço
Este cansaço
Cansaço
Há sempre quem ame o infinito
Há sem dúvida quem desejo o impossível
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas e eu nenhum deles
Porque eu amo infinitamente o finito
Porque eu desejo impossivelmente o possível
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser
Ou até se não puder ser...
E o resultado ?
Para eles a vida vivida ou sonhada
Para eles o sonho sonhado ou vivido
Para eles a média entre tudo ou nada, isto é isto...
Para mim só um grande, um profundo
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço
Um supremíssimo cansaço
Íssimo, íssimo, íssimo
Cansaço "
Álvaro de Campo
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